quarta-feira, 21 de abril de 2010

A história contada com um jeito engraçado...é sério, preste atenção!


A PRIMEIRA RAZÃO para seu triunfo póstumo ( no período imperial sua figura permaneceu quase esquecida) tem base no próprio caráter esquivo do personagem, pois como não se sabe direito quem foi, virou figura fácil de ser puxada para um ou outro lado. Se o regime militar declarou-o - Patrono Cívico na Nação Brasileira, fazendo-o herói para personificar os valores que o regime militar pretendia representar, a esquerda brasileira (por Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri) montaram a peça Arena Conta Tiradentes, mostrando-o um contestador desses mesmos valores. A SEGUNDA RAZÃO é o fato da frustrada tentativa de insurreição de que Tiradentes acabou símbolo, ter ocorrido em Minas Gerais, com desdobramento no Rio de Janeiro, onde ele foi preso e enforcado. Outras revoluções, também com coloração republicana, ocorreram tanto no período colonial como no imperial: a de Pernambuco (1817) e a Farroupilha no Rio Grande do Sul (1824) e Frei Caneca e Bento Gonçalves, respectivamente, cabeças das insurreições mencionadas também poderiam ser proclamados heróis, mas, foram desconsiderados, provavelmente por terem atuado em regiões consideradas, àquela altura, secundárias em relação ao eixo político do país, enquanto Minas Gerais já era considerada o centro político do país. A TERCEIRA RAZÃO para a glorificação de Tiradentes é o apelo popular da fusão, em sua pessoa, de herói nacional e ícone religioso. Os artistas inventaram para ele um rosto inspirado no de Jesus Cristo, como Cristo é protagonista de uma paixão e sua caminhada até a forca ecoa o trajeto do Calvário. Consta que nos três anos em que permaneceu preso, marcados pelas privações, interrogatórios, expectativa da morte e pela assistência dos padres, Tiradentes deixou-se tomar pela religiosidade. Ao subir ao cadafalso, beijou os pés do carrasco, depois rezou o credo: era como um Cristo entregando-se à sua morte. Joaquim José da Silva Xavier cumpre uma trajetória que vai de um Macunaíma dos bordéis a um místico. De permeio, é um servidor da ordem (alferes do Exército) que passa a adepto falastrão de um movimento contestatório que vira fumaça antes de conseguir pôr pé na realidade. Era também um hábil arrancador de dentes, ofício para o qual andava com uma pequena canastra em que guardava uns tantos ferrinhos, e pronto: eis a figura de um brasileiro. (Este ensaio, de Roberto Pompeu de Toledo, chama-se Joaquim José, um brasileiro).

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